Entendendo a relação entre a irrigação, a água e o ferro

Vemos por aí, nos rios, fontes, poços e mes­mo nas nos­sas casas uma man­cha de cor mar­rom que fica jun­to onde a água está. Essa man­cha mar­rom é uma das for­mas de fer­ro mais comuns que exis­tem. O fer­ro é o quar­to ele­men­to mais pre­sente no man­to supe­ri­or do plan­e­ta Ter­ra, depois somente de oxigênio, silí­cio e mag­né­sio. O fer­ro é um nutri­ente para as plan­tas e tam­bém para nós seres humanos; em nos­so caso ele faz parte da hemo­glo­bi­na car­regan­do oxigênio para todo o corpo.

Bom, mas aí vem a per­gun­ta: qual a importân­cia do fer­ro para a água de quem irriga?

Primeiro temos que enten­der que esse efeito depende do tipo de sis­tema de irri­gação que é usa­do, o efeito é muito difer­ente entre um sis­tema auto­pro­peli­do com can­hão e de um por gote­ja­men­to, por exem­p­lo; sendo assim abor­dare­mos sis­temas de microasper­são e gotejamento.

Essa é a história “Era uma vez um íon que se chama­va FERROSO e que vin­ha nadan­do rio abaixo, na primeira grande cachoeira ele encon­trou uma bela par­ceira, que se chama­va OXIGÊNIO e que na que­da, ao se encon­trarem, o FERROSO deu a ela um elétron e então mudou seu nome para FÉRRICO. Já na sua nova for­ma, con­tin­uan­do rio abaixo, muito soz­in­ho, encon­trou três cole­gas e resolveu se jun­tar a elas para con­tin­uar a jor­na­da, as HIDROXÍLAS. Ago­ra todos jun­tos pas­saram a se chamar HIDRÓXIDO FÉRRICO, que por terem fica­do jun­tos ficaram pesa­dos, começaram a cair, cair, para o fun­do do rio. Mas a cam­in­ho do leito do rio, foi sug­a­da repenti­na­mente por uma moto­bom­ba e sem que imag­i­nassem, estavam den­tro de um sis­tema de irrigação”.

His­tor­in­has a parte, tan­to o íon fer­roso quan­to o íon fér­ri­co tem um efeito nas tubu­lações de qual­quer diâmetro, em bocais e labir­in­tos de emissores.O mais impor­tante do íon fer­roso, além de ser trans­par­ente (a lev­e­mente esverdea­do) é que serve de fonte de ener­gia para as chamadas ferrobactérias–micro-organismos que não fazem foto­ssín­tese, mas que ao trans­for­mar o íon fer­roso a fér­ri­co, ger­am a ener­gia que pre­cisam para se desen­volverem e multiplicarem.

Primeira con­statação: é necessário oxi­dar o fer­ro solúv­el (fer­roso)

Pen­san­do sobre isso, tam­bém podemos afir­mar que só ali­men­to (fer­ro solúv­el) não causa prob­le­ma se não há fer­robac­térias. A maneira mais práti­ca para saber se há vida ati­va na água é pela análise chama­da Deman­da Biológ­i­ca de Oxigênio (DBO), com ela, todavia, não saber­e­mos quais micro-organ­is­mos estarão lá.

Segun­da con­statação: é necessário san­i­ti­zar a água

Voltan­do para a irri­gação, temos como uma das refer­ên­cias a tabela de Bucks (1979) que nos fala da con­cen­tração de vários íons, den­tre eles o fer­ro total, onde sendo este maior que 1,5 mg/litro o risco de entupi­men­to de emis­sores é severo. Sabe­mos que a análise iso­la­da de um dos fatores não con­figu­ra a real­i­dade e que tam­bém care­ce­mos de uma tabela mais apro­pri­a­da para qual­i­dades de água que temos no Brasil, onde atingi­mos facil­mente 3 vezes o lim­ite expos­to o que nem sem­pre gera entupi­men­to na práti­ca, sem falar do alto nív­el das tec­nolo­gias atu­ais de sis­temas de irri­gação (fil­tragem e emis­sor) muito mais tol­er­antes a entupi­men­to e alter­ação de vazão.

Ter­ceira con­statação: ade­quar tec­nolo­gias de irri­gação ao tipo de água que será usada

Falam­os bas­tante do íon fer­roso, mas não do fér­ri­co. O hidróx­i­do fér­ri­co tem aque­la car­ac­terís­ti­ca de cor mar­rom, é insolúv­el e vai se aderindo a todas as super­fí­cies pos­síveis. Quan­do está em sus­pen­são na água, vai se acu­mu­lan­do jun­to ao gel pro­duzi­do pelas fer­robac­térias, for­man­do um flo­co; ini­cial­mente esse flo­co pode ser dis­solvi­do por ação quími­ca, mas se por algu­ma razão este secar, será muito difí­cil sua dis­solução e terá que ser tira­do do sis­tema por sim­ples arraste (lavagem). Por­tan­to, essa partícu­la é um agente que com­pli­ca, quan­do há micro-organ­is­mos ativos. Tra­ta-se das pedrin­has amar­ronzadas ao abrir os fins de tubo lateral.

Quar­ta con­statação: é inter­es­sante decantar hidróx­i­do de fer­ro antes de entrar na tubulação

O entendi­men­to des­ta real­i­dade que­brará vários mitos que vemos hoje em dia, como oxi­dar água de rio, que nada fará no com­pos­to amar­ronza­do que já está oxi­da­do e pos­si­bil­i­tará aumen­to de pop­u­lação bac­te­ri­ana fornecen­do oxigênio. Nos próx­i­mos arti­gos, falare­mos dos aspec­tos quími­cos do proces­so de san­i­ti­za­ção da água, dos pro­du­tos que podemos usar e dos proces­sos físi­cos para retenção do ferro.

Não percam o nosso próximo assunto, até lá…

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