A importância da irrigação nas pastagens em sistemas integrados

*Thais Cav­aleti

*Thais Cav­aleti

O Brasil está entre os 10 maiores irri­g­antes do mun­do. Entre 1960 e 2015 a área irri­ga­da aqui cresceu, bem como a nos­sa capaci­dade pro­du­ti­va, pas­san­do de 462 mil hectares para 6,95 mil­hões de hectares (Mha) irri­ga­dos. Segun­do a Agên­cia Nacional de Águas (ANA) essa mes­ma área pode expandir mais 45% até 2030, atingin­do 10 Mha, com uma média de cresci­men­to esti­ma­do a pouco mais de 200 mil hectares irri­ga­dos ao ano.

No Brasil, a agri­cul­tura irri­ga­da está pre­sente em todas as regiões, espe­cial­mente onde há escassez de água, como é o caso da região do semi­ári­do, ou onde ocor­rem perío­dos pro­lon­ga­dos de seca, como na região central.

A água é um recur­so pre­cioso, e deve ser admin­istra­da como tal: é pre­ciso saber quan­do irri­gar, quan­to irri­gar e como irri­gar. Seguin­do todos ess­es pon­tos é pos­sív­el garan­tir pro­du­tivi­dade, qual­i­dade e rentabil­i­dade. O uso da téc­ni­ca de fornec­i­men­to de água tem como objetivo:

  • Aumen­tar a produtividade;
  • Reduzir per­das na produção;
  • Min­i­mizar os riscos climáti­cos e mete­o­rológi­cos (seca e estiagem);
  • Aux­il­iar na apli­cação de insumos.

Quan­do bem plane­ja­da e exe­cu­ta­da, a irri­gação, pode duplicar ou trip­licar a pro­dução agrí­co­la (se com­para­da a agri­cul­tura de sequeiro, que depende da chu­va), ampli­ar a ofer­ta e reg­u­lar­i­dade de disponi­bi­liza­ção de ali­men­tos e out­ros pro­du­tos agrí­co­las e ain­da mel­ho­ra a qual­i­dade e padroniza­ção do mes­mo. Além dis­so, diminui cus­tos de produção.

No caso dos pecuar­is­tas, uti­lizar a irri­gação asso­ci­a­da ao mane­jo e adubação é sinôn­i­mo de pastagem verde o ano inteiro. Nas regiões com tem­per­at­uras mais baixas no perío­do do inver­no, muito comum no sul e sud­este, a maior lim­i­tação é a tem­per­atu­ra. Neste caso o uso da irri­gação con­ser­va o pas­to verde e man­tem a qual­i­dade do mate­r­i­al por mais tem­po. Já nas regiões de altas tem­per­at­uras como o norte e nordeste do Brasil por exem­p­lo, a maior lim­i­tação é a disponi­bil­i­dade de água em deter­mi­na­dos perío­dos do ano, nestes casos a irri­gação pode não só mel­ho­rar a qual­i­dade do pas­to como aumen­tar sua produtividade.

Com isso a pro­priedade terá uma ali­men­tação mel­hor para os ani­mais e, con­se­quente­mente, aumen­to no rendi­men­to do reban­ho e mel­ho­ra nos índices econômi­cos da pro­priedade. Soma­do a isso, terá a pos­si­bil­i­dade de aumen­to na capaci­dade de suporte do pas­to, pos­si­bil­i­tan­do alcançar um tra­bal­ho com lotações aci­ma de 10 unidades ani­mais (UA) por hectare. Isso sig­nifi­ca maior retorno em pro­dução de leite ou arroba/hectare.

Importân­cia na ILPF

Se você está plane­jan­do a implan­tação do sis­tema de inte­gração Lavoura-Pecuária-Flo­res­ta (ILPF) ou se já foi imple­men­ta­do a inte­gração em sua pro­priedade, mas ain­da não é um adep­to da irri­gação, plane­je o quan­to antes, pois seus bene­fí­cios são muitos:

  • É uma medi­da de segu­rança con­tra perío­dos de seca e esti­agem, o que garante a pro­du­tivi­dade durante o ano todo;
  • Por causa dessa segu­rança, a irri­gação na ILPF tam­bém per­mite que o plane­ja­men­to (plan­tio, col­hei­ta e rotação) seja segui­do con­forme o esta­b­ele­ci­do, sem impre­vis­tos climáticos;
  • Mel­ho­ra a absorção de nutri­entes através da fer­til­iza­ção, con­se­quente­mente mel­ho­ran­do a qual­i­dade do produto;
  • Diminui os riscos nos inves­ti­men­tos em cul­turas mais “caras” de serem man­ti­das, jus­ta­mente pela segu­rança climáti­ca e poten­cial­iza­ção da fertilização;
  • Poten­cial­iza a preser­vação do solo na ILPF, prin­ci­pal­mente se trata­men­to de erosão e compactação.

Mas, a per­gun­ta que muitos devem estar se fazen­do: como escol­her o mel­hor sis­tema? Para a ILPF, um sis­tema que tem chama­do a atenção dos pro­du­tores é a fer­tir­ri­gação. Isso porque esse tipo de sis­tema aprovei­ta os deje­tos de ani­mais para pro­mover a adubação jun­to a irri­gação do solo e das plantas.

Para pequenos e médios pro­du­tores, o sis­tema de fer­tir­ri­gação por car­retel tem se mostra­do muito efi­ciente e com baixo risco de inves­ti­men­to. É um mod­e­lo que pos­si­bili­ta a área livre para mobil­i­dade de equipa­men­tos e mão-de-obra, livre de tubu­lações. Tam­bém é um sis­tema móv­el e automáti­co, que otimiza o tem­po do tra­bal­hador para out­ras funções na ILPF. No caso de grandes pro­du­tores com exten­sas áreas de pastagem, a uti­liza­ção de pivôs se mostra muito eficiente.

Já para os pro­du­tores que real­izam ape­nas a inte­gração-Lavoura-Pecuária (ILP), o mais recomendáv­el é ver entre os sis­temas exis­tentes de irri­gação (seja por super­fí­cie, asper­são, local­iza­da ou sub-irri­gação) qual delas irá se encaixar em cada situ­ação e para isso é impor­tante con­hecer bem o ambi­ente que essa pastagem está inseri­da. Uma dica impor­tante é procu­rar um téc­ni­co espe­cial­iza­do para visu­alizar a área e elab­o­rar um pro­je­to jun­to com uma análise dos cus­tos para implan­tação de deter­mi­na­do sistema.

Este profis­sion­al realizará um lev­an­ta­men­to pre­lim­i­nar da área e fará uma análise cli­ma­tológ­i­ca da região. Tam­bém é impor­tante que ver­i­fique o históri­co de duração e de perío­dos de esti­agem e ain­da faça o zonea­men­to agrícola.

Den­tro do zonea­men­to agrí­co­la é fun­da­men­tal se aten­tar sobre a esta­cional­i­dade de pro­dução das for­rageiras, que tem um com­por­ta­men­to difer­ente para cada região em função das condições edafo­climáti­cas, fotop­erío­do, tem­per­atu­ra, lat­i­tude do local. Com isso, a plan­ta pode não se desen­volver por lim­i­tação de algum dess­es fatores, assim o uso da irri­gação terá seu efeito reduzi­do ou nulo.

A esta­cional­i­dade de pro­dução de for­ragem é um pon­to-chave para o plane­ja­men­to de pro­priedades que se dedicam à ativi­dade pecuária. A par­tir dela é pos­sív­el deter­mi­nar, den­tre out­ros, a área necessária para a pro­dução de ali­men­tos para perío­do de “inver­no”. Ou seja, con­hecer essa cur­va de pro­dução de for­ragem é essen­cial para o bom plane­ja­men­to dos sis­temas de pro­dução de carne e leite.

Ape­sar de sua importân­cia e do grande número de exper­i­men­tos em que se deter­mi­na a pro­dução de for­ragem, estes dados ain­da não foram sis­tem­ati­za­dos e, muitas vezes, são ger­a­dos de for­mas tão dis­tin­tas, que as com­para­ções se tor­nam impos­síveis. Por este moti­vo, téc­ni­cos e pro­du­tores se veem obri­ga­dos a basear o plane­ja­men­to das pro­priedades em infor­mações empíricas.

O lev­an­ta­men­to de históri­cos mete­o­rológi­cos e o acom­pan­hamen­to diário das var­iáveis climáti­cas próprios pode suprir, em parte, a defi­ciên­cia de infor­mações e aux­il­iar no plane­ja­men­to das fazendas.

Dicas impor­tantes

É muito impor­tante ressaltar, que esse sis­tema de irri­gação é uma téc­ni­ca que exige um alto inves­ti­men­to e por isso sem­pre é impor­tante lem­brar que o uso de irri­gação só trará retorno aos inves­ti­men­tos quan­do ade­quada­mente conduzida.

Out­ro pon­to impor­tante é que a irri­gação é um dos últi­mos pas­sos e só deve ser ado­ta­da quan­do os pas­tos ten­ham sido recu­per­a­dos e que o mane­jo das for­rageiras e da fer­til­i­dade este­ja ajus­ta­do. Ter uma agri­cul­tura de pre­cisão, cuidar da área, mane­jo de solo, con­t­role de doenças e pra­gas, apli­cação de fer­til­izantes, con­t­role da pop­u­lação das plan­tas e irri­gação sus­ten­táv­el são fun­da­men­tais para garan­tir altos números e bom rendimento.

Thais Cav­aleti é Engen­heira Agrôno­ma e Assis­tente téc­ni­ca de sementes da Sementes Oeste Paulista (SOESP)

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