Texto escrito por:
Jamerson da Silva e Silva
O monitoramento da umidade do solo é a atividade chave para o bom funcionamento do manejo de irrigação. Saber o real teor de água no solo é o ponto principal para se determinar a quantidade de água a ser administrada no sistema de cultivo.
Com a adoção de sensores capacitivos, o monitoramento da umidade em tempo real se torna prático, tornando a tomada de decisões mais rápidas, entretanto, porque tais tecnologias ainda não estão disseminadas nos sistemas de produção atuais?
O problema pode estar associado a motivos como a baixa qualificação técnica presente nas propriedades agrícolas, pois se tratando do uso de sondas capacitivas, para se atingir certo grau de precisão é necessário realizar procedimentos de calibração a fim de relacionar as leituras realizadas ao real teor de água no solo; e o capital empregado ao equipamento, que para muitos produtores é o problema principal encontrado principalmente em pequenas propriedades.
ENTENDA O FUNCIONAMENTO
Entender o funcionamento é crucial para a correta utilização do equipamento e interpretação dos dados obtidos. Existem equipamentos que utilizam o principio da constante dielétrica (K), que é a relação entre a permissividade do meio (e) e a permissividade do vácuo (e0). No caso de sondas que utilizam reflectometria no domínio da frequência (Frequency Domain Reflectometry — FDR), quando uma das placas é eletrizada o campo eletromagnético se expande para o solo e polariza as moléculas de água. A frequência da oscilação de energia é lida pelo equipamento e determina a quantidade de água presente no meio.
Existem diversas particularidades de uma propriedade para outra, desde fatores edafoclimáticos à sociais. A verdade é que sondas capacitivas podem sofrer bastante influência do meio, pois fatores como densidade do solo, textura e salinidade podem influenciar a frequência de dissipação da corrente elétrica gerada pelo campo eletromagnético do eletrodo. Como dito, cada propriedade pode apresentar diferentes condições, o que torna necessário que estes equipamentos passem por uma calibração prévia para cada situação.
Estas particularidades trazem consigo a necessidade de mão de obra qualificada, entretanto, isso não pode ser visto como ponto negativo, uma vez que em mãos qualificadas esta tecnologia pode ser utilizada para atividades além do simples monitoramento da umidade do solo. Equipamentos com princípio baseado na reflectometria no domínio do tempo (Time Domain Reflectometry — TDR) podem ser utilizados para a determinação da umidade do solo e da condutividade elétrica (CE) do mesmo, podendo-se realizar o monitoramento da solução do solo no momento do manejo de fertirrigação, tendo assim noção da CE e da profundidade de maior concentração de fertilizantes na solução do solo em relação a área de maior quantidade de raízes adventícias.
Hoje esta tecnologia é mais empregada em cultivos controlados e protegidos, onde o ambiente não compromete a integridade do equipamento. Isso se dá também ao fato da necessidade de mais equipamento à medida que se aumenta a área da propriedade, aliado a dificuldade de se trabalhar sondas via solo em sistemas de plantio direto, se fazendo neste caso mais adequado o uso de estações meteorológicas.
Existem hoje diversas tecnologias para auxiliar o produtor no manejo de água de sua propriedade, por isso antes de escolher a melhor forma de gerir tais recursos, deve-se fazer um diagnóstico levando em consideração aspectos que vão desde o tamanho da propriedade e tipo de sistema de produção, até a cultura a ser empregada e seu payback.
Tendo em vista alguns dos pontos principais, porque utilizar sondas capacitivas ao invés de outros métodos por evapotranspiração e tensão do solo? Cada método apresenta sua particularidade, se fazendo mais indicado ou não para cada atividade. Métodos via evapotranspiração podem entregar dados confiáveis e com grande praticidade, enquanto que tensiômetros podem entregar a real situação do conteúdo de água na região radicular para cada ponto da propriedade, entretanto, os dados obtidos por estações meteorológicas podem não satisfazer as condições de toda a área de cultivo, e o uso da tensiometria demanda tempo e mão de obra no momento da leitura das baterias no entorno da propriedade.
Hoje os dados coletados por sondas via solo podem ser armazenados em Datalogger para a facilidade de acesso, e com o advento da chamada “agricultura 4.0” o emprego de sondas capacitivas caminha para o monitoramento e automação de sistemas de irrigação, com determinação de lâmina de irrigação, abertura e fechamento de válvula e determinação da necessidade de adubação para a fase fenológica da cultura no momento.
Jamerson da Silva e Silva
Graduando de Engenharia agronômica pela Universidade do Estado da Bahia e pesquisador no programa de iniciação científica nas áreas de manejo de água e solo, reuso de água na agricultura e instrumentação agrícola.