Área profissional que precisa de mais atenção, visando valorizar profissionais qualificados para executar trabalhos com excelência.
(Visão acadêmica)
Por: Prof. José Alves Júnior – UFG
Na minha formação como engenheiro agrônomo, as escolas por onde passei influenciaram muito no profissional que sou hoje. Me formei na Unesp de Ilha Solteira onde tive a honra de fazer estágio no laboratório de hidráulica e irrigação, sob a orientação do Prof. Fernando Tangerino.
Os desafios de aprendizado ainda são muitos, para todos que atuam nesse importante segmento de irrigação e paisagismo.
Atualmente moro em Goiânia. Considerada a capital verde do Brasil, dado a quantidade de parques, praças, rotatórias, canteiros em avenidas, gramados e jardins públicos e privados espalhados pela cidade. E saibam que, muitas dessas áreas, no período seco do ano (Abril a Setembro) não ficam com aspecto muito bonito, devido ao clima da região.
Como beleza é relativa, não ficam bonitas pelo menos ao gosto da maioria da população. A verdade é que a maioria das pessoas se encantam com a pastagem seca, as árvores tortas e os ipês floridos na paisagem, mas quando estão no parque curtido um pique nique com a família, ou passeando com seu cachorro em uma praça, ou jogando aquela pelada com os amigos no campinho do clube, ou até tomando aquela cerveja ao lado de sua piscina em casa ou na chácara, gostam de grama verde o ano todo e plantas floridas que na maioria das vezes não são nativas da região e que precisam de irrigação.
Goiânia, assim como várias outras cidades médias e grandes, estão com demandas crescentes de projetos paisagísticos, inseridos no bioma cerrado, em que devido a distribuição irregular das chuvas, exigem irrigação no paisagismo.
E por que estou aqui contando isso para vocês! Para mostrar que estamos diante de uma grande oportunidade. Toda vez que se fala de irrigação nessa região, logo vem em mente os grandes polos de irrigação por pivô central (Cana, soja, milho, feijão, café, tomate para indústria e etc). Entretanto, estou me referindo a irrigação no paisagismo, uma grande oportunidade de negócio, emprego, qualidade de vida, responsabilidade ambiental, entre vários outros).
Entretanto, vários são os desafios para que sejamos bem-sucedidos nessa jornada:
O primeiro desafio é convencer a população que devemos utilizar espécies nativas e ou espécies tolerantes ao déficit hídrico, e com criatividade deixar um pouco de lado a mania por grama em tudo, ou outra forração qualquer que exige água o ano todo para ficar bonita.
Outro é o convencimento do uso de tecnologia para aplicar água de maneira mais eficiente possível, já que muitos projetos utilizam a água tratada. E, sempre que possível utilizar água de reuso.
É preciso atender “a altura” a crescente demanda por projetos de irrigação, dado a grande expansão dos condomínios horizontais, chácaras de recreação, assim como o aumento da exigência da população que já não toleram o uso de caminhão pipa, e com razão, em canteiros e praças de bairros nobres das cidades. Assim tem surgido várias parcerias público privadas para instalar projetos de irrigação, exigindo muito dos departamentos públicos responsáveis pelos parques e jardins das cidades.
Aí chega um outro grande desafio, que diz respeito diretamente com a universidade e outras instituição de ensino, que é a falta de profissionais (projetistas, montadores, equipe de manutenção e etc) para atuarem de maneira correta nestas áreas.
Eu sou Engenheiro Agrônomo, sou professor de irrigação no curso de agronomia a 15 anos, e já no início da minha carreira eu me deparei com esse problema, que a princípio pensei que era um problema local, mas percebi que trata-se de um problema nacional.
Percebi que, muitos paisagistas, não entendem de irrigação, e que muitos projetistas de irrigação não entendem de paisagismo. Percebi um buraco negro dentro da academia, que é o famoso deixa pra um que deixa para outro e no fim ninguém estava ensinando irrigação no paisagismo, e até hoje, digo isso com conhecimento de causa, a maioria das escolas de projetistas de irrigação não ensinam irrigação no paisagismo (alegando falta de tempo, desinteresse dos alunos, falta de estrutura física e etc), mas seja qual for o motivo não ensinam isso. Fui alertado pelos meus próprios ex. alunos.
Outro grande desafio é fazer difusão de tecnologia, já que para maioria da população irrigação de jardins e gramados é sinônimo de mangueira cor laranja ou verde florescente com uma pistola na ponta, e ou aspersores fabricados em fundo de quintal (os famosos vira cabeça) vendidos em ferragistas e até em feiras livres. Portanto, precisamos mudar essa realidade mostrando para a população os vários níveis de tecnologia, que existem. Mostrando que essas tecnologias estão acessíveis e que em muitos casos, são essenciais para o jardim e para o meio ambiente.
Então cabe a academia, fazer uma melhor integração entre componentes curriculares como: paisagismo, irrigação, desenho, entre outros. Precisamos capacitar professores, para disseminarem informação, promoverem treinamentos de equipes de montagem e manutenção, colaboradores, jardineiros e etc.
Precisamos convencer os profissionais da construção civil (engenheiros, arquitetos, mestres de obras) que paisagismo é parte integrante da obra, e que irrigação faz parte do paisagismo e que precisam mudar o pensamento da terceirização. E os profissionais das ciências agrárias, sobretudo agrônomos, eng. agrícolas e florestais precisam eliminar a certeza de trabalhar no campo.
Tenho participado de vários eventos ministrando palestras e minicursos em semanas acadêmicas procurando preencher essa lacuna que tem no ensino de irrigação no paisagismo e melhorando de alguma forma a formação de futuros profissionais que estarão sendo demandados pela sociedade nesse tema.